quinta-feira, 11 de agosto de 2011

# 4

Há uns meses uma amiga da minha família descobriu que estava grávida. Claro está uma alegria para o casal e para os que os rodeiam, especialmente para o pimpolho que eles já tinham. Nunca tinha visto uma criança tão carinhosa para com os outros, especialmente bebés. Há crianças que simplesmente não se interessam por qualquer ser “estranho” no espaço deles, é quase um alvo a abater, porque se querem afirmar perante os pais, educadores ou demais. Mas ele não. É claro que tinha os seus momentos de diabrete, mas mesmo assim estava de olho nos outros. Lembro-me perfeitamente de um dia que ele sem querer magoou outra bebé, não foi nada demais, mas para ele aquilo era quase o fim do mundo. Acho que é nestes momentos que se vê o quão puras são as crianças. Quem é que nunca olhou para um pequenote, num hipermercado ou num jardim, e simplesmente sorriu? Eu faço isso quase constantemente. E sim, às vezes tenho medo que os pais, se estiverem por perto, façam má cara ou algo do género. Não faço isto por maldade, obviamente, é algo que não consigo controlar, inato. Para ser sincera, acho que tenho saudades de ser assim, pequenina, sem grandes responsabilidades.

A ideia de ter uma irmã, não foi logo aceite, é claro eu ter alguém com quem poder jogar à bola ou brincar com carrinhos, na cabecinha dele era muiiito mais divertido. Mas ele lá se conformou, coitadinho, que remedia tem ele. Quando nos vieram cá dar a notícia, e dizer que era uma menina, falei com ele e perguntei se ele não estava contente por ir ter uma mana para brincar com ele. Disse que sim, disse-lhe que quando a irmã fosse maior ele podia ensiná-la a jogar á bola e assim brincavam os dois e a situação resolvia-se. Minutos depois até disse que não ia deixar a irmã namorar, afirmação crucial para a aceitação, e que me convenceu, diga-se.

Acontece que surgiu a hipótese da menina ter problemas genéticos, leia-se uma malformação no cromossoma 21. Pergunto-me como é que se explica isto a uma criança… Se para os pais este é um aviso altamente assustador, explicar este tipo de situações a uma criança. Como é que se vai explicar, caso se confirme, que a irmã vai ser um bocadinho diferente dos outros meninos, a alguém que quer saber sempre mais e mais sobre tudo? Talvez estas respostas sejam bem mais simples de dar. Talvez esteja eu demasiado estereotipada pela sociedade. O certo é que a minha reacção foi diferente das outras. Eu não lamentei, eu não tive pena, eu não senti uma grande emoção, reagi com a naturalidade possível nestes casos, vinda não sei de onde. Não sei se é pelo futuro que me espera, se é pelas poucas aprendizagens que tenho num ano de licenciatura, apenas sei que a minha reacção foi de alguém que não se “importa” com o que os outros pensam. Eu não me quero fazer entender mal, é claro que para mim foi um balde de água gelada que me caiu em cima, e de todo nada comparável ao daqueles pais, apenas para mim a diferença pode ser uma virtude, e é assim que eu tento encarar este tipo de situações. Enquanto há pessoas que vão achar que aquela criança, que pode ser muitíssimo mais genuína que muitos miúdos que por aí andam, não vai ter o mais brilhante dos futuros devido à sua condição, eu vejo uma forma de marcar a diferença. Cada etapa, uma nova conquista. Todos os dias. Porque é possível basta acreditar e infelizmente ainda há miúda gente que não acredita.

2 comentários:

  1. Eu estou longe de perceber o que quer que seja sorte o assunto mas não se pode fugir, não é fácil aceitar e explicar a uma criança. Pelo menos é o que acho. Mas pode ser que esteja enganada. Aliás, até espero que assim seja.

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  2. Agir com naturalidade e encarar a situação como ela é. Uma criança genuína. Fantástica. Pode vir a ser melhor ainda que muitas outras. Disseste tudo!
    Mudando de assunto :b também adoro sapatos vermelhos, mas (ironia das ironias) não tenho nenhuns :b
    Beijocas

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